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"Jesus: Meu Irmão, Minha Herança"

“Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Isaías 53:5)



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Sinto-me profundamente grata por ter a oportunidade de falar com vocês neste domingo de Páscoa sobre Ele — Aquele que deu a vida por nós. Hoje estou aqui, e sei, sem sombra de dúvida, que se posso falar e ser ouvida, é porque meu irmão, Jesus Cristo, aceitou o peso da missão que nosso Pai lhe confiou.

Humildemente, Ele deixou a grande morada celeste e a glória que possuía, e se entregou para garantir o meu futuro — o nosso futuro. Não há forma mais verdadeira de agradecer por esse gesto do que falar sobre Ele, sobre Seu sacrifício e sobre o quanto Ele é essencial para minha vida.

E é isso que espero desta minha fala: que ao final dela, cada um de vocês possa sair daqui com a mesma convicção — a de que Jesus Cristo vive, e que Seu amor continua sendo a resposta para tudo o que somos e tudo o que buscamos.

Vou dividir minha fala em três partes, cada uma delas tratando de um aspecto diferente de Jesus. Na primeira parte, falarei sobre Jesus como meu amigo imaginário. Em seguida, abordarei Jesus e Seu poder de inspirar a arte e de entrar para a história. E, por fim, refletiremos sobre Jesus como um irmão cuja história e legado devemos honrar.

Eu não conheci Jesus por um acontecimento de descoberta. Ele fazia parte da minha vida desde que nasci. Nasci, como dizem os assembleianos, em “berço cristão”. Como toda menina que é filha de uma irmã do Círculo de Oração, aprendi Salmos, decorei versículos e cantei os hinos da Harpa Cristã. Assim, desde cedo eu já considerava Jesus como meu amigo imaginário.

Venho de um lar em que falar com Ele me foi ensinado desde cedo. Minha mãe sempre me dizia que Jesus era meu melhor amigo — e Ele realmente foi. Não teria atravessado caminhos tenebrosos, nem me reerguido após as tempestades, se não fosse essa visão de que Jesus estava sempre ao meu lado: como um amigo fiel, como um irmão presente.

As travessias da minha vida foram muitas vezes difíceis, mas sempre marcadas por uma certeza inabalável: Ele estava no barco comigo. E mesmo quando o mar parecia agitado demais, mesmo quando o medo ameaçava me afogar, eu sabia — mais cedo ou mais tarde, Ele se levantaria, falaria com autoridade ao vento e ao mar, e a tempestade se acalmaria.

Conforme fui amadurecendo, enfrentei também dúvidas e inseguranças mais profundas na caminhada. Houve momentos em que questionei a minha fé, em que duvidei do meu valor, do meu propósito e até mesmo do rumo que a vida estava tomando. Em cada uma dessas crises emocionais, quando meu coração estava pesado e confuso, era a voz suave de Jesus que me tranquilizava. Lembro-me de orações sussurradas entre lágrimas, em que eu dizia: “Senhor, eu não sei o que fazer...”

E Ele, com toda Sua paciência e amor, não me julgava por questionar. Quando minha fé vacilou, Ele permaneceu ao meu lado — calmo, presente, fiel. Foi nesses momentos que percebi que a fé não é ausência de dúvida, mas a coragem de continuar mesmo quando tudo parece escuro.

Hoje, olhando para tudo que vivi, posso afirmar com convicção: Jesus esteve presente em todos os capítulos da minha história. Ele foi meu protetor nas horas de perigo, meu consolo nas madrugadas de choro, meu conselheiro nas indecisões e o amigo que enxugou minhas lágrimas quando ninguém mais podia fazê-lo. Como um irmão mais velho amoroso, Ele me guiou com ternura, mesmo quando eu não percebia.

O tempo passou, e a Bíblia deixou de ser apenas “o livro da igreja”. E Jesus deixou de ser apenas o irmão a quem eu devia honra e respeito por tamanho sacrifício. Ao alcançar a maturidade espiritual e teológica, compreendi que Ele é mais do que meu irmão, mais do que uma figura central da minha tradição religiosa. Ele é o Verbo, o Caminho, a Verdade e a Vida. E sua presença transcende os muros da igreja — Ele está na história, na arte, na filosofia, no coração de quem crê e até de quem ainda não o conhece por nome.

Acredito que, para os jovens do nosso tempo, essa noção de um Cristo universal seja mais simples de alcançar. Hoje, com o acesso às redes sociais e a tantas realidades além das suas, é mais fácil perceber que Jesus ultrapassa fronteiras religiosas e culturais. Mas, para mim, que cresci sabendo apenas que Jesus tinha doze seguidores e que muitas pessoas não gostavam Dele, eu não fazia ideia da dimensão do evangelho que Ele representava.

Eu não compreendia que Sua presença era revolucionária, que Sua mensagem era profundamente política, humana e libertadora. Somente depois de conhecer Roma, de estudar, de caminhar por aquelas ruas, de ver os sinais da história ainda vivos nas pedras e nos muros, comecei a entender. Comecei a compreender o poder imensurável do amor que Ele pregava, a ousadia do perdão que Ele oferecia e o escândalo da cruz para uma sociedade baseada em glória e dominação.

E como é incrível poder conhecer esse Jesus — o Jesus que veio bem depois de Aristóteles e Sócrates, mas que, ao contrário dos grandes filósofos da Antiguidade, não apenas falou sobre a verdade — Ele disse: “Eu sou a Verdade.” (João 14:6)

Como sou afortunada de poder caminhar por lugares onde Ele esteve, ou onde estiveram Seus discípulos. Ver um pedaço de Sua coroa, entrar em uma igreja construída sobre as ruínas de uma prisão romana, tocar as pedras onde ele seguramente pisou… De repente, o Novo Testamento deixava de ser um texto distante. Ele se tornava vivo, concreto, encarnado na história e na geografia. A Bíblia começava a pulsar de um jeito novo. Algumas passagens ganharam vida diante dos meus olhos:

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós.” (João 1:14)

“Se eles se calarem, as próprias pedras clamarão!” (Lucas 19:40)

“Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho.” (Gálatas 4:4)

Depois, o encontro com Ele continuou... não mais apenas em igrejas ou lugares sagrados, mas nos museus. No Louvre, no Museu do Vaticano, no Musée d'Orsay, em pequenas igrejas da Itália, da França e de tantos países por onde passei... e assim, quase sem perceber, virou um hábito meu procurar por Ele em cada museu que eu visitava.

Os meus passeios nos templos da arte eram também uma busca por um quadro, uma escultura, um gesto, um olhar que me lembrasse Dele. E mesmo consciente de que nem todo museu teria uma obra com Sua imagem, ainda assim, meu olhar vasculhava as salas como quem procura um velho amigo no meio da multidão. Era como se, para mim, encontrar uma representação de Cristo em uma galeria fosse o equivalente ao turista no Louvre que vai direto procurar a Mona Lisa.

E nessa busca, eu aprendi muito — não apenas sobre arte, mas sobre fé.

Aprendi com Rubens, por exemplo, ao contemplar A Elevação da Cruz a ver por quase uma hora os detalhes do peso da madeira sendo erguida, os rostos marcados pelo esforço e dor, e o corpo de Jesus no centro de tudo — entre o céu e a terra. Não há como não se comover e lembrar que o sacrifício Dele não é apenas uma ideia teológica, mas uma entrega real, física, histórica. Aquela imagem dizia mais que mil sermões.

Essa peregrinação estética — essa busca espiritual por Ele nas formas humanas de beleza — virou parte da minha vida. Em cada museu, eu procurava o Cristo retratado, mas, mais do que isso, procurava encontrar o Cristo revelado em mim mesma.

Mas houve um momento muito especial nessa jornada pelos museus — sem dúvida, um dos mais marcantes para mim: o encontro com “As Bodas de Caná”, de Paolo Veronese, uma obra monumental de quase 70 metros quadrados — a maior de todo o Louvre. Ela cobre uma parede inteira da sala, posicionada justamente em frente à obra mais procurada pelos visitantes: a Mona Lisa.

E, no entanto, ali, diante de tantos olhos distraídos, está uma das maiores e mais poderosas representações da vida de Jesus Cristo na história da arte — e que, mesmo assim, passa despercebida por muitos.

É ali que está registrado o primeiro milagre de Jesus, aquele que, segundo o Evangelho de João, marcou o início de Seu ministério público: transformar água em vinho.

Não foi num templo, nem diante de reis ou multidões... foi numa festa de casamento, num momento cotidiano, simples, profundamente humano.

E foi ali que Jesus revelou Sua glória, como nos diz as escrituras. Ver essa cena retratada com tamanha grandeza — com centenas de personagens, uma mesa imensa, música, movimento, cores vibrantes — e Jesus discretamente no centro, quase invisível aos olhos apressados, foi um dos momentos mais simbólicos da minha vida.

Jesus está no centro — mas nem sempre O vemos de imediato. Ele está presente nos detalhes, no meio da alegria, nos bastidores da nossa história, muitas vezes atuando em silêncio, transformando o ordinário em extraordinário. Água em vinho. Vida comum em vida abundante.

Ficar diante dessa obra, enquanto milhares de pessoas se espremiam para ver o pequeno quadro da Mona Lisa — sem perceber que o maior milagre e a maior tela do Louvre estavam ali, diante delas — foi para mim como viver uma parábola ao vivo: às vezes, o essencial está bem diante dos nossos olhos, e mesmo assim não vemos.

Mas eu vi.

E naquele dia, diante daquele quadro, eu agradeci.

Porque o mesmo Jesus que estava nas Bodas de Caná, que ouviu um pedido simples e humano — “Eles não têm mais vinho” — é o Jesus que ainda hoje responde aos nossos vazios, transforma nossas faltas em abundância, e transforma nossa vida, silenciosamente, todos os dias.

A pergunta que faço para vocês — e que também faço para mim mesma — é: será que temos vivido como quem reconhece Jesus como nosso irmão?

Quantas vezes agimos como se Ele não fosse da nossa família?

Chegamos até a esconder o parentesco.

Mas se você fosse irmão ou irmã de Nelson Mandela, ou, sei lá, de Barack Obama... você não sairia por aí dizendo isso com orgulho?

Mas com Jesus... quantas vezes calamos? Quantas vezes preferimos nos silenciar para evitar constrangimento, ou simplesmente porque esquecemos quem Ele é — e, mais ainda, quem Ele é para nós?

Quem já assistiu ao filme A Paixão de Cristo sabe o quanto ele impacta emocionalmente. Mas eu te pergunto: e se você entendesse de verdade que quem está ali, apanhando, sangrando, carregando a cruz... é o seu irmão?

O seu sangue. O seu nome. A sua casa.

O efeito seria outro, não seria?

Seria mais que emoção — seria responsabilidade.

E talvez, só talvez, isso mudasse para sempre a forma como você caminha por este mundo.

E visualize isso comigo... Se você descobrisse hoje que seu irmão é, sei lá, um Rockefeller, você não sairia por aí dizendo isso com orgulho? Você não se apresentaria com outro tom, sabendo da herança, da influência, do nome que carrega?

Pois nesta semana mesmo, o mundo voltou seus olhos para outra família que carrega um legado poderoso: a família Hermès. Donos de um dos impérios mais tradicionais e discretos do luxo mundial, eles são conhecidos não só pelas bolsas e produtos desejados em todo o planeta, mas por algo ainda mais raro: o segredo de como manter um patrimônio familiar por gerações.

Eles são como os Rockefeller — guardam, honram, protegem e cultivam o nome da família com seriedade, estratégia e reverência.

E é exatamente aí que entra o ponto mais relevante da minha última reflexão sobre Jesus:

Você e eu sabemos que somos seus herdeiros.

Mas temos vivido como o irmão rebelde, aquele que não assume a responsabilidade, que evita o assunto, que só menciona o parentesco quando alguém pergunta diretamente — e mesmo assim, meio sem jeito, como se fosse um fardo e não um privilégio.

Mas talvez esteja na hora de mudarmos essa postura.

Talvez esteja na hora de entendermos o que herdamos — e como cuidar dessa herança.

E não há forma mais eficaz de fazer isso do que conhecer nosso irmão de verdade.

Não o Jesus contado por tradição, não o Jesus infantilizado de domingo, não o nome repetido automaticamente em orações.

Mas o Jesus real, aquele que viveu, que caminhou, que ensinou, que venceu e que se entregou por nós.

É hora de irmos além:

De conhecer Sua palavra, entender em que consistem Suas conquistas, como Ele morreu, quem O matou, e, se possível, sim — até mesmo visitar o túmulo vazio.

De olhar para os retratos Dele espalhados pelo mundo — na arte, na cultura, na história — e sentir orgulho de ter um irmão tão especial.

Porque só assim deixamos de ser apenas parte da família por nome, e nos tornamos cuidadores da herança.

Herança essa que não é feita de ouro, nem de bolsas de couro, mas de algo infinitamente mais precioso: vida eterna, amor incondicional e redenção completa.

Hoje, eu sei que este é um dia muito feliz para todos nós — porque descobrimos que o nosso irmão venceu a morte.

Vocês conseguem entender o que isso significa?

Talvez não completamente. Eu sei que muitos aqui cresceram vendo filmes da Marvel e estão acostumados com heróis que caem e voltam. Mas o que celebramos hoje não é ficção, não é roteiro de cinema.

E se me permitem dizer — o Superman não vai voltar, mas Jesus vai.

Em glória e majestade.

Não sei exatamente o que vocês esperavam que eu dissesse hoje.

Mas preparei essas palavras com o coração, pensando nos meus filhos e na minha mãe.

Mãe, que você saiba que me ensinou bem. Que eu aprendi a caminhar com meu irmão mais especial, o Cristo.

E Gabriel, Vivi, que hoje vocês possam aprender isso também.

Que levem com vocês essa certeza: vocês têm um irmão que venceu o mundo e venceu a morte — e que chama vocês pelo nome.

Obrigada por partilhar comigo esse domingo tão especial.

Hoje, neste domingo de Páscoa, eu não venho apenas falar sobre um Jesus histórico, ou artístico, ou teológico.

Eu venho falar do meu irmão. Do nosso irmão.

Aquele que dividiu o pão, que lavou os pés, que chorou com os que choravam, que curou com as mãos e salvou com o corpo.

Aquele que morreu em nosso lugar — e ressuscitou para nos chamar de família.

E se Ele nos chama assim, irmãos, então também nos chama à responsabilidade de sermos reconhecidos como tais.

Páscoa não é só lembrar do sacrifício. É responder ao amor com fidelidade.

É olhar para o túmulo vazio e decidir viver uma vida que faça sentido diante da cruz e da ressurreição.

É parar de esconder o parentesco e assumir, publicamente, que somos irmãos de Jesus Cristo.

Por isso, hoje, eu te convido a pensar:

Será que tenho vivido como alguém que carrega esse nome?

Será que tenho falado com coragem, caminhado com esperança, amado com generosidade, perdoado com humildade — como faria um irmão de Jesus?

Não é fácil. Mas é possível. Porque Ele vive.

E porque Ele vive, nós também podemos viver — como filhos e filhas de Deus, como irmãos e irmãs de Cristo, como testemunhas do maior amor que este mundo já conheceu.

Hoje, eu não te peço que saia daqui apenas emocionado.

Eu te peço que saia convicto.

Convicto de que você tem um irmão que venceu a morte.

E que o mínimo que podemos fazer por esse irmão… é viver uma vida que O honre.

Feliz Páscoa.

Mara  Rute Lima  Hercelin

 
 
 

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