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Perdemos nossa ambição? Europa, COP30 e a lacuna das metas de 2035

No dia 18 de setembro de 2025, o Conselho de Ministros do Meio Ambiente da União Europeia aprovou uma declaração de intenção sobre a trajetória de redução de emissões para além de 2030. O documento, submetido à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), estabelece um intervalo de redução de 66,25% a 72,5% até 2035, tomando como referência o ano de 1990.

Em paralelo, a Comissão Europeia manteve a proposta de redução de 90% até 2040, compatível com a meta de neutralidade em 2050. A diferença de abordagem entre o horizonte intermediário (2035) e o de longo prazo (2040–2050) evidencia a existência de uma lacuna que tem sido objeto de debate científico e político.

O que a ciência exige

O IPCC (2023) destaca a necessidade de cortes imediatos e significativos de emissões para manter a meta de 1,5 °C ao alcance. O Conselho Científico Europeu sobre Mudança do Clima (2025) recomendou reduções de 78% até 2035 e de 90% a 95% até 2040.

Na prática, a decisão europeia situa-se entre 6 e 12 pontos percentuais abaixo do que a ciência indica como necessário para 2035. Embora esses números possam parecer marginais, representam bilhões de toneladas de CO₂ adicionais, com efeitos acumulados em termos de mitigação e custos futuros.

Contexto socioeconômico

A definição das metas ocorreu em meio a pressões conjunturais: inflação e custo de vida elevados, crise energética decorrente da guerra na Ucrânia, disputas de competitividade industrial com China e Estados Unidos, além de desafios de coesão social em regiões dependentes de combustíveis fósseis ou de modelos agrícolas tradicionais.

Esses fatores ajudam a explicar a opção por metas intermediárias menos rígidas, ao mesmo tempo em que evidenciam a tensão entre a urgência científica e as restrições políticas e econômicas internas.

Economia azul como estratégia complementar

Nesse cenário, a economia azul surge como uma via estratégica para reforçar a transição climática europeia, articulando inovação tecnológica, proteção ambiental e desenvolvimento socioeconômico. Quatro frentes principais se destacam:

  1. Reindustrialização costeira de baixo carbono: investimentos em portos verdes, hidrogênio, combustíveis sustentáveis e energia eólica offshore.

  2. Carbono azul e resiliência: restauração de manguezais, marismas e pradarias marinhas para sequestro de carbono e proteção contra eventos extremos.

  3. Inovação bioeconômica: biotecnologia marinha, aquicultura de baixo impacto e novos materiais de base biológica.

  4. Transição justa: programas de qualificação profissional e diversificação econômica para comunidades costeiras e pesqueiras.

Implicações para a COP30

A COP30, em Belém, terá caráter decisivo, pois será a primeira vez em que todos os países apresentarão novas NDCs pós-2030. A União Europeia chega ao encontro com uma meta robusta de 90% até 2040, mas com indefinições no marco intermediário de 2035.

Essa ambiguidade pode ter impacto diplomático, já que a UE construiu sua posição internacional como referência em ambição climática desde o Acordo de Paris. A ausência de metas intermediárias mais claras compromete a capacidade de pressionar outros atores globais a adotar trajetórias mais consistentes.

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A política climática europeia encontra-se diante de um dilema. As metas de longo prazo estão alinhadas ao objetivo de neutralidade em 2050, mas o horizonte de 2035 permanece aquém das recomendações científicas. Essa lacuna reduz a previsibilidade e pode afetar tanto a eficácia da mitigação quanto a credibilidade internacional da União Europeia.

A integração da economia azul à transição verde representa uma oportunidade para alinhar mitigação, inovação e inclusão social, fortalecendo a posição europeia nas negociações multilaterais. O período até 2035 será determinante para avaliar se a ambição declarada para 2040 poderá se traduzir em resultados concretos.

 
 
 

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